Rev Port Cardiol. 2016;35(7-8):395---404
Revista Portuguesa de
Cardiologia Portuguese Journal of Cardiology www.revportcardiol.org
ARTIGO ORIGINAL
Angioplastia primária em Portugal entre 2002-2013. Atividade segundo o Registo Nacional de Cardiologia de Intervenc ¸ão Hélder Pereira a,v,∗ , Rui Campante Teles b,w,v , Marco Costa c,v , Pedro Canas da Silva d,v , Vasco da Gama Ribeiro e,v , Vítor Brandão f,v , Dinis Martins g,v , Fernando Matias h,v , Francisco Pereira-Machado i,v , José Baptista j,v,x , Pedro Farto e Abreu k,v , Ricardo Santos l,v , António Drummond m,v , Henrique Cyrne de Carvalho n,v,x , João Calisto o,v , João Carlos Silva p,v , João Luís Pipa q,v , Jorge Marques r,v , Paulino Sousa s,v , Renato Fernandes t,v , Rui Cruz Ferreira u,v , Sousa Ramos w,v , Eduardo Oliveira d,w,v , Manuel Almeida b,w,v , em nome dos investigadores do Registo Nacional de Cardiologia ¸ão de Intervenc a
Hospital Garcia de Orta EPE, Almada, Portugal Hospital de Santa Cruz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE, Lisboa, Portugal c Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra---CHC, Coimbra, Portugal d Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar de Lisboa Norte EPE, Lisboa, Portugal e Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, Hospital Eduardo Santos Silva, Porto, Portugal f Hospital de Faro EPE, Faro, Portugal g Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada EPE, Ponta Delgada, Ac¸ores, Portugal h Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, Lisboa, Portugal i Hospital da Luz, Lisboa, Portugal j Unidade de Intervenc¸ão Cardiovascular --- Alvor, Portimão, Portugal k Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca EPE, Amadora, Portugal l Hospital de São Bernardo, Centro Hospitalar de Setúbal EPE, Setúbal, Portugal m Hospital do Funchal, Funchal, Madeira, Portugal n Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto, Porto, Portugal o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra --- HUC, Coimbra, Portugal p Centro Hospitalar de São João EPE, Porto, Portugal q Hospital de São Teotónio, Viseu, Portugal r Hospital de São Marcos, Braga, Portugal s Hospital de Vila Real, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro EPE, Vila Real, Portugal b
∗
Autor para correspondência. Correio eletrónico:
[email protected] (H. Pereira).
http://dx.doi.org/10.1016/j.repc.2016.01.005 0870-2551/© 2016 Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Publicado por Elsevier Espa˜ na, S.L.U. Todos os direitos reservados.
396
H. Pereira et al.
t
Hospital do Espírito Santo, Évora, Portugal Hospital de Santa Marta, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE, Lisboa, Portugal v Hospital CUF Infante Santo, Lisboa, Portugal w Registo Nacional de Cardiologia de Intervenc¸ão, APIC-CNCDC x Hospital de Santo André, Centro Hospitalar de Leiria, Leiria, Portugal u
Recebido a 31 de dezembro de 2015; aceite a 10 de janeiro de 2016 Disponível na Internet a 5 de julho de 2016
PALAVRAS-CHAVE Registo; Cardiologia de intervenc ¸ão; Enfarte do miocárdio; Coronariografia; Angioplastia primária; Stent
KEYWORDS Registry; Interventional cardiology; Myocardial infarction; Coronary angiography; Primary angioplasty; Stent
Resumo Introduc¸ão e objetivos: Foi nosso objetivo reportar a evoluc ¸ão da angioplastia coronária no tratamento do enfarte agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (EAMCST), entre 2002-2013. Métodos: Os dados prospetivos multicêntricos do Registo Nacional de Cardiologia de Intervenc ¸ão (RNCI) e os dados oficiais da Direc ¸ão Geral de Saúde (DGS) foram conjugados para estudar os procedimentos no EAMCST entre 2002 e 2013. Resultados: Em 2013 realizaram-se 3524 angioplastias primárias (ICP-P), representando um crescimento de 315% relativamente ao ano de 2002. Em 2002 a ICP-P representava 16% do total de angioplastias coronárias, passando a representar 25% nos anos de 2012-2013. Entre 2002-2013 o número de procedimentos por milhão de habitantes aumentou de 106 para 338 e a angioplastia de recurso decresceu de 70,7 para 2%. Durante o período em análise, a utilizac ¸ão de stents eluidores de fármaco cresceu de 9,9 para 69,5%. Após 2008, observou-se uma utilizac ¸ão crescente da trombectomia de aspirac ¸ão, atingindo 46,7% em 2013. Os inibidores das glicoproteínas IIb/IIIa registaram um decréscimo no seu uso, sendo de 73,2% em 2002 e de 23,6% em 2013. O acesso radial cresceu de 8,3% em 2008 até 54,6% em 2013. Conclusões: Durante o período em análise, a taxa de angioplastia coronária por milhão de habitantes triplicou. A angioplastia de recurso foi ultrapassada pela angioplastia primária a partir de 2006. Observaram-se novas tendências no tratamento do enfarte agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST, salientando-se a utilizac ¸ão de stents eluidores de fármacos e o acesso radial. © 2016 Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Publicado por Elsevier Espa˜ na, S.L.U. Todos os direitos reservados.
Trends in primary angioplasty in Portugal from 2002 to 2013 according to the Portuguese National Registry of Interventional Cardiology Abstract Introduction and Objectives: The aim of the present paper was to report trends in coronary angioplasty for the treatment of ST-elevation myocardial infarction (STEMI) in Portugal. Methods: Prospective multicenter data from the Portuguese National Registry of Interventional Cardiology (RNCI) and official data from the Directorate-General for Health (DGS) were studied to analyze percutaneous coronary intervention (PCI) procedures for STEMI from 2002 to 2013. Results: In 2013, 3524 primary percutaneous coronary intervention (p-PCI) procedures were performed (25% of all procedures), an increase of 315% in comparison to 2002 (16% of all interventions). Between 2002 and 2013 the rate increased from 106 to 338 p-PCIs per million population per year. Rescue angioplasty decreased from 70.7% in 2002 to 2% in 2013. During this period, the use of drug-eluting stents grew from 9.9% to 69.5%. After 2008, the use of aspiration thrombectomy increased, reaching 46.7% in 2013. Glycoprotein IIb-IIIa inhibitor use decreased from 73.2% in 2002 to 23.6% in the last year of the study. Use of a radial approach increased steadily from 8.3% in 2008 to 54.6% in 2013. Conclusion: During the reporting period there was a three-fold increase in primary angioplasty rates per million population. Rescue angioplasty has been overtaken by p-PCI as the predominant procedure since 2006. New trends in the treatment of STEMI were observed, notably the use of drug-eluting stents and radial access as the predominant approach. © 2016 Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Published by Elsevier Espa˜ na, S.L.U. All rights reserved.
Angioplastia primária em Portugal entre 2002-2013
397
Introduc ¸ão
Análise estatística
A angioplastia primária (ICP-P), quando realizada atempadamente e executada por equipas experientes, é a melhor opc ¸ão para o tratamento do enfarte agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (EAMCST)1 . Com o objetivo de reportar a evoluc ¸ão do tratamento do EAMCST tratado por angioplastia coronária em Portugal, recorremos ao Registo Nacional de Cardiologia de Intervenc ¸ão (RNCI) da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), assim como aos dados de atividade oficiais relativos à cardiologia de intervenc ¸ão, publicados pela Direc ¸ão Geral de Saúde (DGS)2 . O RNCI foi criado pela SPC, em 2002, e está sediado no Centro Nacional de Colec ¸ão de Dados (CNCDC), sob a responsabilidade da Associac ¸ão Portuguesa de Intervenc ¸ão Cardiovascular (APIC) da SPC. O seu objetivo é documentar de forma prospetiva e contínua as características dos doentes e dos procedimentos percutâneos realizados em Portugal3 , sendo um registo multicêntrico, voluntário, prospetivo, caso a caso, tendo como base o European Data Standards for Clinical Cardiology Practice (CARDS)4 .
As características basais foram comparadas ao longo dos anos pelo teste de Kruskal-Wallis para as variáveis contínuas e pelo teste de qui-quadrado para as variáveis categóricas. As variáveis contínuas foram descritas como «média (± desvio padrão)», e as variáveis dicotómicas através de frequências relativas e absolutas. A análise foi efetuada com recurso ao software SPSS 19, tendo sido considerado significativo um valor de p < 0,05.
Resultados A Figura 2 mostra a evoluc ¸ão da intervenc ¸ão percutânea coronária entre os anos de 2002-2013. Em números absolutos, durante esse mesmo período, a ICP-P triplicou em Portugal (Figura 3, p < 0,001), observando-se um incremento progressivo de 106 até 338 ICP-P por milhão de habitantes (Figura 4, p < 0,001). No início do estudo, predominava a angioplastia de recurso, que representava 70,7% da ICP no contexto de EAMCST, em contraste com o último ano, em que representou 2,0%, face a 85,9% da ICP-P (p < 0,001). Entre 2002-2013, a ICP-P cresceu de 16 até 25% da atividade global nacional (Figura 5, p < 0,001). A Figura 6 apresenta a proporcionalidade entre ICP-P, angioplastia de recurso e angioplastia facilitada, no tratamento do EAMCST. Na Tabela 1 pode observar-se a evoluc ¸ão, em termos demográficos, da populac ¸ão tratada. Constata-se não haver diferenc ¸as estatisticamente significativas quanto à idade, sexo e antecedentes de insuficiência cardíaca. Observam-se diferenc ¸as nas variáveis: antecedentes de diabetes mellitus, antecedentes de ICP e antecedentes de insuficiência renal crónica, que demonstram um crescimento ao longo do período analisado. Também se observa um decréscimo no
Métodos A inclusão de doentes no RNCI tem sido progressiva. No ano inicial de atividade (2002) deste registo a amostra representou 37% do total de doentes tratados nesse ano, atingindo 99% em 2012 e 95% em 2013 (Figura 1). Os dados do RNCI foram complementados pelos dados oficiais publicados pela DGS no que se refere ao número total angioplastias, de ICP-P e de fibrinólise, sendo coligidos por inquéritos anuais dirigidos aos centros com cardiologia de intervenc ¸ão. Os restantes dados de atividade, expressos em taxas de utilizac ¸ão, tiveram por base o RNCI.
Percentagem de doentes incluídos no RNCI Percentage of patients included in the RNCI 99
100
Percentage of patients included in the RNCI (%)
95 89 p < 0,001 74
75 69 59 50
50 45
46
2003
2004
49 47
37
25
0 2002
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Ano/Year
Figura 1
Percentagem de doentes incluídos no RNCI.
2012
2013
398
H. Pereira et al. Angioplastias coronárias (ICP) em portugal coronary angioplasty (PCI) in portugal (from 2002 to 2013)
16.000
13.897
p < 0,001 12.443 12.253 12.000
13.005 12.823
11.553 10.425
Total PCI (n)
9.920 9.215 8.437
7.804
8.000 6.955
4.000
0 2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Ano/Year
Figura 2
Angioplastias coronárias (ICP) em Portugal.
número de intervenc ¸ões nos doentes com antecedentes de cirurgia de pontagem aortocoronária (CABG).
Trombectomia aspirativa A trombectomia manteve-se com valores residuais até 2008, ano em que sofreu um incremento apreciável, passando de 4,5% no ano precedente para 18,8% nesse ano. Em 2013, 46,7% dos casos de ICP-P foram submetidos a trombectomia (Figura 9, p < 0,001).
Utilizac ¸ão de stents Em todo o período em avaliac ¸ão os stents foram utilizados na grande maioria das intervenc ¸ões (Figura 7), com uma taxa de utilizac ¸ão de 92,2% em 2013 (p = 0,287). Os stents eluidores de fármaco (DES), introduzidos no mercado português em 2002, tiveram, nesse mesmo ano, uma utilizac ¸ão de 9,9%, passando para 43,4% no ano seguinte, atingindo o pico em 2005, com 69,5% de utilizac ¸ão (p < 0,001). Em 2013, a taxa ¸ão foi de 64,5% (Figura 8). de utilizac
Inibidores das glicoproteínas IIb/IIIa Em 2002, 73,2% das ICP-P foram efetuadas com recurso a inibidores das glicoproteínas IIb/IIIa. A partir de 2006, observou-se uma importante quebra na utilizac ¸ão, que passou a ser de 22,5% nesse ano (Figura 10). Em 2013, a taxa de utilizac ¸ão foi de 23,6% (p < 0,001).
ICP no enfarte agudo do miocárdio (STEMI) PCI for acute myocardial infarction (STEMI) 4.000 3.524 3.500
p < 0,001
3.179
ICP for STEMI (n)
3.000
3.246
2.829 2.575 2.415
2.500 1.900
2.000 1.401
1.500 1.118
1.253
1.616
1.328
1.000 500 0
2002 2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011 2012
Ano/Year
Figura 3
ICP no enfarte agudo do miocárdio (STEMI).
2013
Dados demográficos e antecedentes clínicos
Idade (anos) Sexo feminino Antecedentes diabetes mellitus Antecedentes de PCI Antecedentes de CABG Antecedentes de insuficiência cardíaca ¸a vascular Antecedentes de doenc periférica Antecedentes de insuficiência renal crónica
Idade (anos) Sexo feminino Antecedentes diabetes mellitus Antecedentes de PCI Antecedentes de CABG Antecedentes de insuficiência cardíaca Antecedentes de doenc ¸a vascular periférica Antecedentes de insuficiência renal crónica
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
62 ± 12 24,5% 22,6% 22,9% 9,2% 8,3% (18/2310) 0,8%
63 ± 12 24,2% 23% 24,5% 9,5% 4,5% (37/2851) 1,3% 4%
64 ± 11 25% 27% 25,4% 9,6% 4,3% (38/2781) 1,4%
64 ± 11 26,3% 29,3% 27,1% 9,4% 2,9% (42/3357) 1,3%
64 ± 11 25,8% 28,4% 30,5% 8% 2,1% (92/3731) 2,5%
64 ± 12 25% 29,4% 28,1% 8,7% (127/3107) 4,1% (72/3431) 2,1%
64 ± 12 25,1% 28,7% 26,6% 7,4% (218/5546) 3,9% (112/5350) 2,1%
6,4%
5,9%
5,9%
5,8%
5,2%
3,6%
2009
2010
2011
2012
2103
p
65 ± 12 26% 30,7% 26,9% 7,1% (220/7353) 3% (154/6848) 2,2%
65 ± 12 25,4% 29,9% 27,4% 7,1% (258/7968) 3,2% (218/7604) 2,9%
65 ± 12 25% 31,9% 28,8% 6,6% (407/9925) 4,1% (264/8477) 3,1%
65 ± 12 25,1% 30,4% 28,7% 7,5% (494/10 703) 4,6% (342/9611) 3,6%
65 ± 12 26,2% 32,5% 30% 7,4% (471/10 894) 4,3% (372/10 054) 3,7%
ns ns < 0,001 < 0,001 < 0,001 Ns 0,020
5,2%
6,3%
5,7%
7%
7,5%
< 0,001
Angioplastia primária em Portugal entre 2002-2013
Tabela 1
399
400
H. Pereira et al. Evolução da ICP-P por milhão de habitantes Primary PCI evolution per million inhabitants
Primary PCI evolution per million inhabitans
400
350
338
p < 0,001 300
299
306
2011
2012
264 250
243 228
200 179 152
150
132
125
119
106 100
50
0 2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2013
Ano/Year
Figura 4
Evoluc ¸ão da ICP-P por milhão de habitantes.
Acesso radial
na generalidade, a efetividade da ICP-P no tratamento do EAMCST5 . Entre 1998-2001, realizaram-se em Portugal, respetivamente, 442, 641, 769 e 957 ICP-P6 . Com os dados que agora publicamos, completamos a progressão da ICP-P até 2013. Esta evoluc ¸ão foi sempre positiva, tendo-se observado o maior salto entre 2007-2008, com uma taxa de crescimento de 27%. É muito importante realc ¸ar a evoluc ¸ão da proporc ¸ão de ICP-P face às restantes intervenc ¸ões coronárias. No início do estudo, a ICP-P representava 16% da atividade dos laboratórios, atingindo os 25% nos últimos dois anos do registo, o que coloca mais exigências formativas e organizativas por se tratar de um tipo de procedimento realizado num contexto menos controlado e mais imprevisível.
O acesso radial manteve-se em valores residuais entre 20022007. A partir de 2008 observou-se um aumento, desde os 8,3% observados nesse ano, até aos 54,6% verificados em 2013, ano em que os doentes foram tratados maioritariamente por esta via (Figura 11, p < 0,001).
Discussão Não obstante a ICP se ter desenvolvido e divulgado durante os anos 80, só cerca de uma década mais tarde foi aceite,
ICP primária versus outras ICP Primary PCI versus other PCI 100%
16
16
16
15
16
18
21
21
23
24
25
25
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
80%
60%
40%
20%
0%
Ano/Year P-PCI
Figura 5
Other
ICP primária versus outras ICP.
Angioplastia primária em Portugal entre 2002-2013
401
Angioplastia no enfarte agudo do miocárdio STEMI PCI 100%
3,2
4,3
5,3 16
15,8
80%
STEMI PCI (%)
70,7 60%
p < 0,001
1,7 3,5 16,1 3,2
9,5
16 48,8
1,9 3,5
2,7 4,8
13,7 2,5
12,2 2
52,8
67,6
92,5 40%
29,3
29,2
2002
2003
46,9
41,9
2004
2005
94,8 80,7
83,8
85,9
2011
2012
2013
74,7
68
20%
94,6
0% 2006
2007
2008
2009
2010
Ano/Year Primary
Figura 6
Rescue
Facilitated
Angioplastia no enfarte agudo do miocárdio; STEMI PCI.
não havia consenso sobre a sua utilizac ¸ão no contexto de EAMCST. O pico verificou-se em 2005, onde atingiu uma taxa de 69,4%, a que se seguiu um decréscimo acentuado (37,9% em 2008), atribuível às dúvidas colocadas em 2006 no Congresso Europeu de Cardiologia, em Barcelona, sobre o aumento de trombegenicidade dos DES7 . Progressivamente, a partir de 2009, os DES foram ganhando terreno e atingiram uma taxa de 64,5% em 2013, o que está de acordo com as atuais recomendac ¸ões europeias para a revascularizac ¸ão miocárdica1 . O estudo TAPAS8 sugeriu o benefício da trombectomia aspirativa realizada por rotina e terá contribuído para o aumento da trombectomia manual aspirativa a partir de 2008 (4,5% em 2007 e 18,8% em 2008), atingindo 46,7% no último ano do registo. Estes resultados ainda não refletem os resultados dos estudos TASTE9 e TOTAL10 , visto terem
É também interessante salientar o papel que a ICP-P foi tomando ao longo dos anos, face aos outros tipos de angioplastia no contexto do EAMCST. Em 2002, ainda não havia registo da angioplastia facilitada e a angioplastia de recurso representava 70,7% dos procedimentos neste contexto. Progressivamente, a angioplastia de recurso foi diminuindo e, a partir de 2007, caiu abaixo dos dois dígitos percentuais. Os dados publicados pela DGS mostram uma relac ¸ão inversa entre evoluc ¸ão da ICP-P e da fibrinólise, observando-se uma reduc ¸ão progressiva da fibrinólise à medida que a ICP-P cresceu2 . Durante o período em análise já era rotina o uso de stents no EAMCST e isso está refletido na percentagem de utilizac ¸ão de stents que foi sempre superior a 85%. A taxa de utilizac ¸ão de DES na ICP-P foi 43,4% logo no ano seguinte à sua introduc ¸ão em Portugal, numa fase em que ainda
Utilização de stents Stents usage
p = 0,287
100 92,9
92,6
94,7
93,6
92,4
91,2
2003
2004
2005
2006
2007
2008
88,3
91,5
92,6
92,4
93,5
92,2
2009
2010
2011
2012
2013
Stents usage (%)
80
60
40
20
0 2002
Ano/Year
Figura 7
Utilizac ¸ão de stents.
402
H. Pereira et al. Utilização de DES DES usage 100
p < 0,001
75
DES usage (%)
67,9
69,4 64,5
62,1 56,1 50
43,4
51,6
50,6
2010
2011
44,2
44,8 37,9
25
9,9
0 2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2012
2013
Ano/Year
Figura 8
Utilizac ¸ão de DES.
procedimentos portugueses12 em geral e com os bons resultados apresentados pelos estudos STEMI-RADIAL13 e MATRIX14 . O acesso à ICP-P, em Portugal, mostrou uma evoluc ¸ão positiva, com boas taxas de crescimento e mostrando a incorporac ¸ão da inovac ¸ão e das novas tecnologias. No contexto europeu, em particular com os números do norte da Europa, Portugal, durante a década passada, apresentava-se como um dos países europeus com menores taxas de ICP-P por ano e por milhão de habitantes. No artigo publicado por Petr Widimsky15 , em 2010, surgimos como um dos países com menos de 200 ICP-P/ano/milhão de habitantes, assim como com uma taxa de ICP-P de apenas 19% e com 37% de doentes não reperfundidos, nem por angioplastia, nem por fibrinólise. Na origem desta taxa de não reperfusão poderá estar o facto de 55% dos doentes terem
sido apresentados fora da janela do presente estudo. Em consonância com os resultados mais recentemente publicados, uma análise do RNCI não demonstrou vantagem da trombectomia aspirativa11 . A utilizac ¸ão de inibidores das glicoproteínas IIb/IIIa sofreu um decréscimo de 68% entre 2002-2013. Em 2002, a taxa de utilizac ¸ão foi de 73,2% e, em 2013, foi de 23,6%, podendo-se especular que a esta evoluc ¸ão não será alheia a introduc ¸ão, no arsenal da terapêutica adjuvante, da bivalirudina e dos novos antiagregantes plaquetários. As heparinas de baixo peso molecular mantiveram sempre valores de utilizac ¸ão relativamente residuais. O acesso radial manteve uma utilizac ¸ão diminuta até 2008, altura em que cresceu para 8,3%, observando-se desde então um importante incremento anual, atingindo os 54,6% em 2013, o que está na linha com o que se passou nos
Trombectomia no STEMI STEMI thrombectomy
STEMI thrombectomy (%)
60
46,2
46,7
2012
2013
44
p < 0,001 40 36,5 34,3
18,8
20
4,5 3,1 0
0 2002
0
0
0,5
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Ano/Year
Figura 9
Trombectomia no STEMI.
2011
Angioplastia primária em Portugal entre 2002-2013
403
Utilização de inibidores GP llb/llla GP llb/llla inhibitors usage
GP llb/llla inhibitors usage (%)
100
80 73,2
p < 0,001 63,3 57,9
60 54,7
41
40 34,5
27,4
31,6
27,9
22,3 20
23,6
16,9
0 2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Ano/Year
Figura 10
Utilizac ¸ão de inibidores GP II. Acesso radial Radial access
100
80
Radial access (%)
p < 0,001 60
54,6 46,7
40
36 27,2
20
15,3 8,3 0,6
0,6
1,2
1
2,3
2,2
2002
2003
2004
2005
2006
2007
0 2008
2009
2010
2011
2012
2013
Ano/Year
Figura 11
chegado após as 12 horas do início dos sintomas16 . Igualmente preocupante era a diminuta taxa 23% de doentes que ligava para o 112. Nesta prestac ¸ão da ICP-P Portugal estava acompanhado por outros países da orla mediterrânica, em contraste com os países do norte da Europa, em que o número de ICP-P/ano/milhão era superior a 600. Foi neste contexto que, no Congresso Europeu de Cardiologia de 2009, a Sociedade Europeia de Cardiologia deu corpo à iniciativa Stent for Life (SFL)17---19 , com o objetivo reduzir a mortalidade por EAMCST. Para este efeito, o projeto propôs-se atingir uma taxa de 600 ICP-P/ano/milhão de habitantes. Portugal integrou a SFL em 2011, através da APIC da SPC, tendo sido criada uma task force que analisou as principais barreiras a uma terapêutica de eleic ¸ão20 . Numa revisão mais recente, publicada por Steen Kristensen21 em 2014, no âmbito da iniciativa SFL, Portugal apresenta indicadores bem mais favoráveis e enquadrados com a média europeia. Os dados relativos a 2010/2011 são referentes a 37 países
Acesso radial.
europeus, mantendo os países do norte da Europa taxas mais elevadas de ICP-P. Os nossos resultados21 comparam-se com os da Bélgica (297/ano/milhão), Espanha (225/ano/milhão), Finlândia (265/ano/milhão), Grécia (346/ano/milhão), Gronelândia (396/ano/milhão) e Inglaterra/País de Gales (286/ano/milhão). Os resultados obtidos têm diversas explicac ¸ões: a evidência científica robusta favorável à adoc ¸ão da ICP-P, a cooperac ¸ão local entre os referenciadores e as instituic ¸ões, a extensão e aperfeic ¸oamento da Via Verde Coronária, as ac ¸ões da campanha SFL e a inovac ¸ão, que permite evoluir a técnica do procedimento e tratamentos adjuvantes.
Limitac ¸ões do estudo O RNCI apresenta algumas limitac ¸ões. A exportac ¸ão de todos os centros para o registo foi alcanc ¸ada em 2013, pelo que
404 as percentagens aqui apresentadas têm por base os doentes que estão registados, que variaram entre 37% em 2002 e 99% em 2012. Como referimos anteriormente, não existe seguimento sistemático de todos os doentes, o que nos impede a apresentac ¸ão de resultados clínicos hospitalares e no seguimento após a alta. Outra limitac ¸ão atual do RNCI é a ausência de auditoria interna e externa.
Conclusão Entre 2002-2013 triplicou a taxa de ICP-P por milhão de habitantes. A angioplastia de recurso foi ultrapassada pela ICP-P em 2006. Observaram-se novas tendências no tratamento do EAMCST, salientando-se a utilizac ¸ão preferencial de DES e o acesso radial, que passou a predominar em 2013.
Responsabilidades éticas Protec ¸ão de pessoas e animais. Os autores declaram que para esta investigac ¸ão não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais. Confidencialidade dos dados. Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicac ¸ão dos dados de pacientes. Direito à privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Conflito de interesses Os autores declaram não haver conflito de interesses.
Agradecimentos Agradecemos à Dra. Adriana Belo, bioestatística do Centro Nacional de Colec ¸ão de Dados em Cardiologia (CNCDC), a colaborac ¸ão no tratamento dos dados do Registo Nacional de Cardiologia de Intervenc ¸ão.
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